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Discernimento e Tsunamis Emocionais
Publicado em: 04 de setembro de 2006, 19:32:59  -  Lido 2964 vez(es)

Passado o tsunami físico na Ásia, precisamos estar acima do pior: o
tsunami emocional. Eventos desta proporção, explorados pela mídia e
alavancando um pensamento coletivo de impotência e tragédia que
nos "magnetiza", criam uma forma diferente de interação emocional,
nada saudável, a qual NÃO PODEMOS confundir com a comoção que
teriamos em um evento menor.

Se não tomamos cuidado, medindo com discernimento e imparcialidade
assistencialista ("postura de amparador") a justa preocupação,
podemos, sem querer, talvez sem sequer notarmos, sermos "capturados"
pela grande onda densa geradas pelas formas-pensamento de bilhões de
telespectadores da tragédia.

A catástrofe, se permitirmos, pode ser maior: esta massa de
pensamentos cinzentos, encobrindo o planeta, pode propiciar um maior
índice de "acidentes" aqui, discussões acolá, assédios espirituais
mais adiante, e por aí vai. Tsunamis emotivo conscienciais.

Como no tsunami físico, não há como tentar vencer a força das marés.
Estamos falando de eventos gradiosos demais. Não dá para pegar
jacaré, não dá para achar que vamos enfrentar as ondas com "boa
intenção". Para ajudarmos MESMO, é preciso estarmos FORA do alcance
desta onda psíquica. E a melhor forma ainda é estando nas alturas da
boa sintonia.

É hora de buscarmos a união com o que tivermos de elevado - prece,
meditação, evangelho no ar, amparador, Buda, Jesus, não importa -
para, pairando acima do arrastão psíquico, termos a isenção
suficiente para compreendermos como (ou "se") podemos ajudar. E a
QUEM, e ONDE, pois as consequências deste transe emotivo pode estar
fazendo vítimas bem mais perto de nós que imaginamos.

È necessário ter, agora, o que chamamos de "postura de amparador":
olhar de cima, como evento evolutivo. O que certamente
parecerá "frio" a quem foi arrastado pelo vagalhão emocional, e lhe
cobrará estar nas "ondas" emotivas com ele também - o que não
ajudaria.

É claro, entretanto, que devemos ter comoção, e enviarmos nosso
melhor. Inclusive trabalho assistencialista, e boas vibrações.

É claro que preces e sintonia são apropriadas. Todos os dias, aliás,
ocorram ou não catástrofes.

É claro que não temos como falar da dor de cada um dos 150.000 dramas
humanos ali, e que é fácil ser isento quando não estamos envolvidos.
Embora ficar desesperado por "solidariedade" não ajude ninguém.

Ainda assim, por maior que seja a tragédia, é verdade TAMBÉM que
ninguém morreu, ali. Que água pode afogar o espírito? Que fogo pode
queimá-lo?

Onde vai parar nosso espiritualismo quando há uma "tragédia"
televisionada? E se o planeta explodisse, seria uma grande tragédia?
Não deveriamos continuar existindo de algum modo?

Raciocine: Em um grande evento planetário, arrasador, há duas
possibilidades: Você foi atingido, ou não foi.

Se não foi, desesperar-se não ajuda. Colocar-se voluntariamente como
uma das vítimas, sofrendo aqui, impotente, é suicídio consciencial.
Causa DANOS, e atrai assédios. Provavelmente nem os espíritos das
vítimas, pelo menos as mais espiritualizadas, estejam "nessa" tanto
tempo depois.

Não deixa de ser irônico: o desencarnado, amplamente assistido em
eventos assim, encontra-se provavelmente longe dali, enquanto
ocidentais "espiritualistas" lançam-se psiquicamente aos seus
cadáveres empilhados, como urubus melodramáticos via satélite,
buscando qualquer migalha de emotividade desnecessária, como se já
não bastasse as que fazem em nome do "amor".

E na outra possibilidade? Se você foi atingido, será que teve tempo
para este drama todo? Só se ficou por aqui! Mas aliás, senhor
espiritualista, uma semana depois, já é hora de caminhar! Com
certeza, ateus, desavisados e mal-informados tiveram assistência
divina e acompanhamento em um momento assim. Não é de esperar que
justamente o espiritualista e assistencialista vá ficar encrencado e
apegado ao físico, sem amparo, tanto tempo depois. Precisariamos ser
muito ruins de serviço! E por pior que estivessemos, a própria
assistência que propagamos nos traria, karmicamente, assistência em
momentos assim.

Não faz sentido, de todo modo. Até porque, quem está com drama AQUI
não foi atingido LÁ.

No fundo, o que sobra mesmo é um grande MEDO DE MORRER (do
espiritualista que está aqui). O que acontece de fato é uma
impotência diante das "leis divinas", que talvez tenham sido apenas
as naturais do planeta.

Mas se somos espiritualistas mesmo, não deviamos, a esta altura,
sabermos que viemos de uma estrela, estamos em uma "estrela" (astro),
e vamos para uma estrela? Que não somos daqui, e que uma hora TEMOS
que partir?

O medo é de morrer "de uma vez"? Sem comprender de onde a morte
chegou? Que diferença faz, então, morrer de ataque cardíaco num
apartamento solitário da metrópole, ou num acidente de carro com mais
3, ou numa queda de avião com mais 100, ou num atentado terrorista ao
prédio onde trabalha com mais 3000, ou num terremoto com mais 10.000,
ou num maremoto com mais 150.000, ou numa bomba atomica com mais
250.000, ou num bombardeio americano ao Cambodja com mais 3.000.000,
ou mesmo se o planeta explodisse com mais 6.000.000.000 ?

Só há duas possibilidades, você continua a existir de algum modo, ou
não continua. E em todas as duas, não há novidade no fato de todos
terem que morrer. Mas há uma certa incoerência quando quem sempre
diz "que a vida continua" se desespera diante de tragédias assim.

Aliás, será que uma mãe solteira, com câncer e vários filhos, não
sofre mais do que quem morreu repentinamente num tsunami?

Aliás, contam com tanta comoção os espíritos "mortos" em poucos
minutos, mas não seria mais grave SOBREVIVER, ali? Se é para se
comover, então que pelo menos conte, como tragédia, a centenas de
milhares de sobre-viventes (hifen intencional), que terão que
subviver no que sobrou.

Entendo, portanto, a comoção de quem está lá. De quem escapou por
pouco. De quem tem parentes perdidos. De quem terá que reconstruir,
sem as pessoas que mais amava, sem apoio, sem interesse turístico,
sem dinheiro. O que não entendo é quem fica mal aqui, dias e dias
depois, acompanhando tudo de forma mórbida pela CNN, com destaque
para as ondas nos grandes hotéis.

E depois, as teorias de limpeza divina, de castigo, de restate
planetário, de migração de almas, de Apocalipse - dentre
outras "pérolas" que circulam nos meios ditos, er, "espiritualistas".
Como se Jeova, Alah, Ashtar Sheran, Shiva, Tupã, INRI Cristo e Elvis
Presley houvessem se reunido para nos castigar.

Que ego o nosso que, mesmo diante de um evento que deveria nos
mostrar nosso real tamanho e "importância" no planeta que nos
HOSPEDA, preferimos ainda imaginar que TUDO ocorre por NOSSA causa.

Pelo que tenho lido, parece que o Criador, após ter feito todo o
universo com suas leis, forças e movimentos; veio com seu Dedão
Divino ao terceiro planetinha em volta de uma estrelinha de quinta
grandeza num bracionho externo da via láctea (uma dentre milhões de
galáxias), só pra dar uma mexidinha extra numa placa tectônica,
porque Ele julgou que UMA DAS milhares de espécies do planeta, o
tal "homo sapiens" (sapiens???), andou se comportando "mal", e
precisa ficar ser sobremesa. Que ego o nosso, não?

Pois é: vi muitas pessoas buscando explicação, em geral divina, para
o ocorrido; esquecendo-se de que nós, humanos, TAMBÉM somos
animaizinhos pequenos vivendo NATURALMENTE num planeta que tem sim
terremotos e marés.

Há pelo menos um GRANDE tsunami, terremoto ou erupção vulcânica a
cada 100 anos (nada impedindo de haver mais que alguns).
Sempre "ocorre" uma Cracatoa aqui, ou um Vesúvio acolá.

Não seria apenas a característica do planeta, assim como noite e dia,
neve e tempestade, vulcões e furacões, desertos e marés?

Quantos milhões de formigas morreram quando NÓS fizemos o lago de
Itaipu?

Quem chorou pelo fim dos dinossauros, aliás?

É duro dizer isso, mas 200.000 os EUA mataram apenas com UMA bomba
atômica. E pior que isso, 3.000.000 de civis dizimados no Cambodja,
na década de 50, queimando as metrópoles da Ásia com seus B52. Não
justifica, mas me parece mais tragédia do que, naturalmente, 150.000
bichinhos humanos, que viviam a beira mar, serem afogados numa
elevação oceânica.

Discirna: Todas as décadas, ocorrem GRANDES terremotos em terra
firme. A maior parte do planeta é de água. Em terremotos debaixo
dágua as ondas podem ir da Indonésia até a Índia, até encontrar terra
firme, destruindo num raio de 5000 km (!) do epicentro.

Logo, não foi "azar". Este tsunami mostrou é que estamos com muita
sorte, com tantas cidades costeiras. Confiamos DEMAIS na estabilidade
do solo oceanico. E depois achamos "mito" uma tal de Atlântida
desaparecer. Devem ter sido várias!

O pior de tudo é o tsnunami emocional. Sâo BILHÕES de pessoas gerando
formas-pensamento de tragédia, densas, unidas, AQUI, agora, diante da
TV. Uma briguinha aqui, um acidente de carro acolá, um assalto mais
adiante, uma depressão incentivada aqui e ali, e ninguém nem sabendo
ao certo como foi que tudo começou. E todos voltando, sem nem
questionar porque, para a frente da TV, revendo as mesmas imagens,
hipnotizadas e vampirizadas pelo tsunami emocional que as joga contra
nossos piores detritos e medos.

E como estamos todos levando "caixote", nem pensamos mais em reagir.
Já achamos que a vida é assim, que milhares "morreram", que é tudo
uma "tragédia divina", que discernimento é "frieza", e que devemos
nos solidarizar sofrendo também, exclamando "isso é terrível",
repetidas vezes, diante da TV.

Isso sim, faz mal.

Lázaro Freire


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