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>> Colunistas > * Apocalipse Recursivo: Em 2012 será o fim... do calendário Maia! (Os vários fins do mundo e a profecia maia) Publicado em: 28 de maio de 2008, 11:21:13 - Lido 22180 vez(es) http://migre.me/kDp - Twitter @lazarofreire Com 43 anos de vida e discernimento, já enfrentei vários fins do mundo e datas marcadas para contato extraterrestre. O primeiro deles, marcado para o interior do Rio de Janeiro nos anos 70, teve até transmissão do Fantástico, semana a semana. Uma verdadeira histeria coletiva. Talvez algum leitor mais antigo estivesse por lá, esperando as naves chegarem. Como na minha infância não havia internet, o apocalipse passou a vir de Nostradamus. Estavamos condenados, me provaram com as centúrias. E havia até data, para alguns: Outubro de 1999, começando um fim no ano 2000. Deus usava o sistema decimal, e gostava de números grandes e redondos. Só mais tarde vim a descobrir que as centúrias eram uma espécie de Bíblia: Dependendo da intenção de quem as manipula, podem ser interpretadas isoladamente para justificar qualquer coisa, inclusive as contraditórias entre si: Pode ser Napoleão ou Hitler, pode ser a queda da Bastilha ou a do Corinthians. Maktub reciclável: O atentado do World Trade Center estava lá. Na mesma profecia que em 1980 "provaram" anunciar a queda do muro de Berlim. Sei. Lembro também de uma época, nos anoso 70, em que o Fantástico mostrava uma garota que dizia ver Nossa Senhora. Fátima Reloaded, com transmissão ao vivo. Eu não sabia nada de mediunidade, mistificadores e psicopatologia - e pelo jeito, a Globo da época também não. Numa das visões, a menina garantiu, e eu menino nunca me esqueci: O mundo ia acabar numa quinta-feira. Nossa Senhora é quem disse, numa obra prima de concisão e utilidade de informação. Para muitos, a informação era vaga. Para mim, que me lembrava de Nostradamus, era precisa: Havia poucas quintas-feiras em Outubro de 1999. Que azar o meu, que havia acabado de nascer! Li o Apocalipse (da Bíblia) de cabo a rabo, para saber tudinho que ia ocorrer. Mas esqueci de aplicar a mim mesmo, pois distraidamente me casei em uma quinta-feira, no Outubro de 1986. A separação se deu em 1999, e, tenho certeza, o Livro da Revelação de João retrata apenas parte dos horrores que passei na ocasião. Quando pensei que ainda teria alguns anos de vida, novamente o Fantástico me advertiu, em plena década de 80: Jesus não nasceu no ano 0. Na minha visão religiosa de então (onde o mundo todo girava em torno da interpretação que o povo do deserto da Palestina fez de seus mitos de milênios atrás), isso significava que o ano 0 era antes do que eu pensava. Logo, o mundo se acabaria, segundo minhas contas, em alguma quinta do começo da década de 90. Com o que eu passava no casamento, o adiantamento seria bem vindo. Aguardei, mas foi em vão. Pelo jeito, Nostradamus também usou o calendário errado. Quando eu já me conformava com Outubro de 1999, e aproveitava meus últimos meses de vida, veio a bomba, em todas as listas de astrologia: Em Agosto daquele ano haveria um eclipse gigantesco, e o mapa astral do momento configuraria uma dupla cruz, em signos de elementos fixos, lotada de quadraturas. Era o mapa do anticristo, disseram. A informação correu a internet. Ele estava nascendo, ou seja, era o fim do mundo. Acreditei, como não? Era um sinal no céu, justamente no ano de 1999. Mas raios, logo agora que eu me separei? Quando eu estava quase me convertendo à Universal, aguardando o fim, alguém me mandou em anexo o mapa do tal eclipse, o tema astrológico natal do anticristo. Segundo diziam, o mais terrível mapa astral que alguém poderia ter. Achei estranhamente familiar. Quando coloquei a data, hora e local no meu software de astrologia, o traçando com símbolos e ângulos que eu estava mais acostumado, tive a suprema revelação: Era muito igual ao meu, que também tem uma dupla cruz fixa (Araxá, MG, 3/11/64, 15:30). Peraí! Eu era o anticristo? E que raio de evento astrológico único é esse que ocorre de tempos em tempos? E porque o mundo não acabou também quando eu nasci? Na lista de astrologia que eu frequentava, já com Liege Campos, Nina Azevedo, Wagner Borges, Paulo Coelho, Márcia Frazão, Olavo Borges, Ivan Freitas, Denise Moon Raven e muita gente mais de sarcasmo e discernimento, resolvemos aguardar o tal eclipse de 1999 com uma festa, muito vinho e violão. Encontro de fim do mundo. Quase fomos excomungados da internet por heresia e desrespeito, pois, naquela época, as pessoas aqui na rede eram muuuuuuuuuuito mais crédulas e esquisotéricas do que hoje em dia, acredite! Primeiro fim do mundo com internet pública, em 1999 havia vigília virtual pra todo lado, mestre gnóstico-ufológico alertando, gurus das comunidades de Minas gerais e Goiás em polvorosa, e recebiamos flames por estarmos marcando diversão para aquele momento "tão importante" do planeta. Nós iriamos nos arrepender, diziam. As naves não nos resgatariam, parece que os ET´s só queriam preservar a humanidade mais triste. Pra facilitar o trabalho de Ashtar, acendemos uma fogueira na festa (não havia GPS). Mas se ele veio naquela noite do eclipse, nos ignorou. E aos ufólogos místicos também. Mas era só uma questão de dois meses, em Outubro haveria a data de Nostradamus. Nada aconteceu. Mas aí disseram que o século não havia acabado, e que a data era 31 de Dezembro de 1999, exatamente à meia noite. Que baita sacanagem divina, em pleno revellion. Fora o trabalho de fazer um fim do mundo para cada fuso horário. Fazia sentido, se o Deus de todo o universo usar o calendário gregoriano e gostar de contas redondas. Além do mais, seria uma economia dos sinais nos céus, já que os fogos facilitariam o clima apoteótico. Mas confesso que nâo sei se o mundo acabou ou não naquela passagem de ano: eu estava bêbado. Mais tarde, alguém de ressaca lembrou que o novo século só começaria em 1/1/2001. E a data também tinha sua aura mística, graças à ficção científica, que explica muito bem a fé dessa gente - ou falta dela. Tinhamos uma nova data apocalíptica, mas ninguém levou tão a sério dessa vez, já que outros ufólogos místicos e gurus comunitários já haviam feito várias outras previsões de contato, arrebatamento, chegada das naves e fim do mundo no período. Todas furadas. Alguns falaram dos alinhamentos de planetas que ocorreram no começo deste milênio. Novamente, alguns mapas astrológicos. Mas depois do tal eclipse de Agosto de 1999, ninguém mais acreditava que um mapa astral seria o anúncio do fim. Precisavamos de algo com maior credibilidade, para anunciar a data e hora da chegada de Jesus e João Batista em uma nave espacial. E aí veio Jan Val Ellan e a revista Ufo, em matéria de capa. Ufa! Quase fomos excomungados da internet pela segunda vez, ao aventarmos a possibilidade de que essas vozes que falavam dentro da cabeça do tal Profeta Rogério de Freitas - uma espécie de INRI Elias reencarnado - só falassem... dentro da cabeça dele. Espiritualistas sérios nos lembravam da possibilidade do homem estar certo. Não custava confiar. E além do mais - falácia da autoridade - a revista falou! Lembrei do Fantástico. Aí veio a notícia de que o homem era não só Elias, mas também Allan Kardec reencarnado. Um profeta nato - e em Natal, que sincronicidade - sempre incompreendido em seu tempo. Maktub, quem ousaria duvidar? Alguns percorreram o país ouvindo os ensinamentos de Ellan, que vendeu muitos livros reinterpretando o apocalipse e suas trombetas. Amém, Kardec Sheran. No dia marcado por Ellan, marcamos um encontro voador em Belo Horizonte, lá na chopperia Stadt Jever. Vai ver o mundo já acabou, e eu novamente estava bêbado na ocasião. O fato é que naquela noite de sábado anunciada, realmente vimos hordas de lunáticos nas ruas da Av. Contorno, gritando e babando, aos milhares. Milhares! Mas não vi as naves no céu, e Ellan havia garantido que seriam visíveis a todos. Como explicar aquela multidão nas ruas, boa parte trajada de preto, e gritando mantras em coro? E os carros desordenados, piscando faróis e buzinando sem parar? E os gritos histéricos? Será que metade de Minas Gerais havia lido a UFO e aguardava o arrebatamento? Será que o chopp caseiro daquele bar alemão provocava alucinações? Quando saí do bar, já quase nascendo o dia, comprei o jornal para ver as fotos das naves, e li a manchete: "Galo, campeão da segunda divisão". Tempos depois, como nós profetizamos, Ellan esclareceu seu equívoco. Os deuses e ET´s haviam o enganado, para que se cumprissem as profecias. Gostei: os marcianos tinham senso de humor. Jan Val Allan Kardec marcou uma outra data, essa sim certeira, poucos meses depois. Dessa vez, o mundo se acabou - pelo menos o dele, como profeta apocalíptico no sudeste do país. Bem feito, quem mandou discordar de Nostradamus? Estudando história, vi que a mania não é nova. Os palestinos já tinham certeza do fim no ano zero, com a invasão romana. Erraram por 1960 anos, quando Israel e os EUA lhes fizeram ter saudades de Júlio César, que não os confinava numa faixa dentro de seu próprio país. Mais tarde, no ano 1000, nova histeria coletiva. E novamente o mundo não se acabou. Mas imaginem o que deve ter falado a igreja nos tempos da grande fome seguida da peste negra, em que a Europa viu sua população se reduzir drasticamente em apenas um século? Foi o fim do mundo mesmo, para o sistema feudal: Mão de obra escassa e valorizada, decretando o fim da servidão, o começo do renascimento, e mais tarde as revoluções. Descobri, enfim, que todos sempre dão o azar de nascer no fim do mundo, seja no ano 0, 1000, 1945 ou 1999. Não é algo pessoal de Deus contra mim. Mas entender isso dói: afinal, me sinto mais importante se o mundo acabar por mim, se os "outros" estiverem irremediavelmente perdidos, se for um gigantesco equívoco fatal ousar acreditar em algo diferente de minha fé, e acho que por isso todos querem um fim customizado para a sua própria crença e geração. "Arrependei-vos, ó, pagãos! Venham para a minha crença ou morram! É o último aviso!" Quanta caridade e compreensão... Agora, começa a histeria do Calendário Maia em 2012. Já a previamos no começo do milênio, há várias mensagens antigas no histórico da Voadores falando dos profetas de email que surgiriam no fim da década, com a proximidade de 2012. Não que o calendário original não possa ser sério - já o que se fala dele numa neoreligião brasileira está mais para astrologia e esquisoterismo, que mistura runas, hexagramas, signos e cálculos que os povos antigos da América Central jamais utilizariam. De fato, os antigos Maias e Incas tinham grande conhecimento de astronomia. De fato, vivemos uma época de transformação. De fato, o calendário deles termina em 2012. Outros, não. Mas há outras coincidências, como a mudança da era de Aquário, e o próprio milênio do calendário ocidental. Mas este Calendário que conhecemos aqui - misturando runas e i-ching - é tão "Maia" quanto a Portela, sincretismo bem brasileiro de algum Macaco Esquisotérico Vermelho, em alguma Noite de Tormenta magnética azul. Mas, aguardem minha profecia, os tais Lunáticos Magnéticos Amarelos seus criadores estarão em breve no Fantástico e na Luciana Gimenes, na medida em que a data de 2012 se aproximar, se sentindo a própria reencarnação de Pacal Voltan. Para transformarem-se em novos e esquecidos Ellans a seguir. Com tantos apocalipses reincidentes nos últimos 2000 anos, e tantas guerras e danos ao planeta causados pelo próprio homem, uma hora algum Edir Macedo, Ellan Kardec, Juscelino, Ergon, Argüeles, Nostradamus ou Trigueirinho vão acertar. O próprio papa Ratzinger, que não é nada bobo, já escolheu o nome de Bento XVI propositalmente para confirmar uma teoria apocalíptica de milênios atrás. O aquecimento global pode ser uma boa ocasião. E a vocação militar e imperialista de uma China que o mundo todo faz enriquecer, também. Uma voz profético-racional me diz que ainda vamos ter muitas saudades do imperialismo norte-americano, e de quando os inimigos mundiais eram apenas os russos e alemães. Podem estar certos que no dia seguinte a qualquer catástrofe dessas, um profeta aparecerá em programa popular com uma carta falsificada registrada em cartório, em que já previa a tragédia há muito tempo atrás. E, garanto, na madrugada anterior à desgraça, havia um pastor na TV anunciando o fim. O detalhe é que em todas outras noites de minha vida, também. Ou seja, muitos dos que sacam o Calendário Maia para explicar o fim são os mesmos que em outras épocas anunciavam a chegada das naves. Ou os mesmos que frequentavam comunidades de resgatáveis, ou que procuravam eclipses e alinhamentos nos céus, ou que faziam vigília às 02:02 de 2/2/2002, ou que estudavam as centúrias de Nostradamus. Alguns até já escutaram as palavras apocalípticas do pastor, seja o da igreja do bairro, seja a do guru da nova era. Pouco importa qual seja o calendário, qualquer data serve, desde que fale de fim dos outros e do resgate "dos bons e escolhidos", a saber, aqueles que divulgam datas apocalípticas via internet. No fundo, estes apocalípticos não são tão espiritualistas assim, e carregam dentro de si um baita medo de morrer, que justifica tanta fé na ascenção aos céus em vida. Sua morte não pode se dar num dia qualquer, em que milhões nascem e deixam o planeta - precisam levar consigo todos os outros bilhões, uma vez que não pensam o mundo sem a presença de seu umbigo. Seu fim precisa ser o de toda a humanidade, por mando divino, e não mais um evento natural, a que todos estamos sujeitos um dia. O bom de viver assim pensando na morte é que um dia acertam. O que não entendo é que diferença faz, quando o prédio cair, se cairam ou não todos os outros da cidade, ou mesmo os do planeta. Parece coisa de criança, "só paro de brincar se o filho da vizinha for pra casa também". Por essas e outras, tenho certeza de que pelo menos uma dessas profecias estará certa: Em 2012 será o fim... do CALENDÁRIO Maia!!! Ele acaba nessa data, o mundo não. Já nossa presença no planeta, lamento, não há calendário ou email que possa prever. Fim do mundo é "Maya", a do sânscrito: uma ilusão. Em 2013, continuaremos a existir, encarnados ou não, e Deus estará conosco onde estivermos. Pelo menos para aqueles que não dependem de profecias para enxergá-lo no agora e aqui. Mas, cá entre nós, espero que estejamos na Terra mesmo, já que em 2014 temos Copa do Mundo no Brasil, e Deus - como um bom brasileiro que dizem ser - não perderá a oportunidade de ver os argentinos perdendo, na final, em pleno Maracanã. Lázaro Freire
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