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Sabedoria X Espiritualidade X Filosofia - somos gregos até hoje, e não existe filosofia oriental
Publicado em: 01 de fevereiro de 2009, 22:54:43  -  Lido 5499 vez(es)

Há um comum relação à filosofia, que é confundí-la como sinônimo de "sabedoria", "verdades religiosas", "estilo de vida" e até mesmo "conhecimento oculto".
Se fosse assim, haveria uma filosofia egípcia antiga, uma filosofia hindu antiga, uma filosofia oriental, e não há, embora haja sim sabedorias e espiritualidades hindus, egípcias.
Por definição, a filosofia não pode ser a sabedoria, pois a aspira. Filosofia é amar a sabedoria, e Sócrates lembra no Banquete que deuses não amam, pois são completos. O amor nasce da ciência da incompletude, do desejo de ser inteiro, da aspiração de comungar com os deuses. Philos sophia.

A filosofia é uma indefinível prática dialética ocidental de origem grega e da qual derivaram a matemática, a psicologia, a física, a pedagogia, a ética, a política, a lógica (que unida à matemática gerou esse computador), o método científico, o sistema educacional (vindo das academias, liceus e/ou sofistas gregos) e tantas outas áreas.
Em filosofia que de fato ame e aspire sabedoria, é preciso admitir não saber. Não vale sacar um uppanishadi, uma bíblia, um liber de ordem iniciática ou uma comunicação espiritual para dizer que "o mundo é assim", que Brahman ou Deus fez isso ou aquilo. Nem que a natureza do mundo (ou do astral) é essa, e não aquela. Quando pensamos ter as respostas, caimos nas áreas do conhecimento ou da religião, que são IMPORTANTÍSSIMAS, mas NÃO SÃO a filosofia em si.

A esse respeito, já que o equívoco é recorrente devido ao uso da palavra no senso comum (imprecisões como dizer "filosofia de vida, a filosofia dessa empresa, filosofia "hinduista", espiritismo filosófico e outros enganos), recorto alguns trechos de esclarecimentos nossos antigos, aqui mesmo na Voadores:

 

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Não há Filosofia iniciática "egípcia". O que fala de mitos e deuses egípcios anteriores ao nascimento da filosofia não é filosofia. Aliás, os próprios mitos e deuses anulam o caráter filosófico do pensamento, por definição.

Tá certo os egípcios moravam perto da Grécia Antiga, e podem tê-los influenciado de várias formas. Mas se havia alguma Philos Sophia egípcia, ou hindu, ou chinesa, certamente ela não chegou até nós.

Mas nao confundamos: Estes outros povos tem riquíssimas cosmologias, cosmogonias, mitos, livros sagrados e sistemas iniciáticos; isso, sim. Só não tem "filosofia" que *por definição e criação* depende justamente de NÃO HAVER nada que DEPENDA de crenças, escritas sagradas, episódios divinos, mestres da verdade, histórias de deuses, hierofantes, descrições do invisível por alguém "de autoridade". Não que isso não exista, eu mesmo acredito e de certo modo até cumpro o papel de "sacerdote" (aspas) de algumas "verdades" (muito mais aspas) espirituais, em alguns contextos BEM específicos, como REFERÊNCIA para alguém. É sempre preciso uma metáfora, uma parábola, um paradgima, uma crença - ou seja, um MITO - para sermos didáticos e lidarmos com o mundo que nos cerca.

Mas entenda-se que FILOSOFIA só *começa* quando usamos o discernimento e a razão, exclusivamente, para especular e explicar tudo, MESMO QUE nossa razão esteja voltada para especular e explicar Deus.

Nesse contexto, o único da filosofia (que nasceu em uma hora e lugar, podia ser qualquer um, e por acaso foi na Grécia, e falando Grego) é difícil falarmos em "filosofia egípcia" (ou hindu, chinesa, oriental, etc) especialmente no caso dos deuses de lá. Com muito esforço e aproximação, podemos no máximo aceitar que pequenas partes do pensamento oriental, dentre eles partes do taoismo e do advaita vedanta hindu, sejam também "filosofias", mais por metáfora do que por definição.

Mesmo a filosofia árabe tem seu pé na Grécia, especialmente em Aristóteles. É tão "oriental" quanto a que se faz no Brasil, ou seja, fala-se grego, em cima de um modelo de pensamento pós-helenístico, em que vivemos até hoje. Pela definição de "grécia" daquele tempo, TODOS NÓS hoje em dia somos gregos.

Não que todo o resto não seja sábio e válido, muito pelo contrário.
Apenas não é filosofia, assim como o que Aristóteles, Kant e Nietzsche faziam não era "Yoga" nem "Aikido".

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> Obviamente que estava falando daquele conhecimento que tem que
> ser passado ao "povo" em formas de Deuses.

Pois então. Obviamente que "isso que vem de Deuses" tem vários nomes, até mesmo sabedoria, religião, verdade final, cosmogonia, e pode até ser uma via mais direta autêntica de se chegar à sabedoria, Mas não é "filosofia", ou o que veio a ser chamado por esse termo.

Certamente há muita sabedoria no que dizem ser "repasse de
conhecimento passado ao povo diretamente pelos Deuses", mas todos os
deuses que aqui chegaram, só o fizeram através de um "tradutor"... Acredita-se nele ou não, e aí não é mais questionamento, e sim religião.

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Para a academia a filosofia é grega por todos os motivos e razoes
levantados pelo Lazaro, que sucintamente (pelo menos nesta parte)
denominamos Logos. O que é o Logos? Não me atreverei a conceituar, mas a perspectiva que se tem dado a este termo é o de um principio normatizador, demarcatório da compreensão do ser no mundo. O logos representa nossa lógica, nosso esquematismo mental, nossa estruturação lexical. Heidegger o mais grego do século XX, herdeiro de Nietzsche na sua genealogia, deixou tácito que todo ocidente fala grego e pensa em grego, a razão disto se deve ao logos que está embutido em tudo, principalmente em nossa forma de pensar e de ser no mundo. Isto nos torna e nos faz gregos, embora desconheçamos.

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