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>> Colunistas > * As ondas de Iemanjá - Um relato pessoal na Bahia Publicado em: 03 de fevereiro de 2009, 14:02:17 - Lido 5952 vez(es) > --- Na Lista Voadores, Lázaro escreveu, sobre Iemanjá:
Pois é, eu havia passado o 2 de Fevereiro de 2007 - festa de Iemanjá - em Salvador, com minhas amigas Nina (da casa Telucama, de Salvador) e Fabi (do Espaço Cant´Alma, de São Paulo). Estavamos lá no Rio Vermelho, entre rosas, entregas, magia, Carlinhos Brown ali do lado, multidões, incorporações, axé, defumadores, cerveja, sagrado, profano - essas coisas sotoporitanas. Fui pela festa, pelo turismo espiritualista, e até então ninguém havia me dito que a Yemanjá do Candomblé era, dentre outras coisas, a "senhora das marés", ou seja, uma grande transformadora, uma versão tsunami do Shiva hindu. Eu pensava naquela imagem de mulher, influência da umbanda e do catolicismo: Mãe Maria, beleza feminina, alguém para me dar um "colinho", ajuda - sabe como é. Só depois é que foram me contar que colinho no reino das águas estava mais para Mãe Oxum. Quem chama por Yemanjá, soube na prática, pede a força de mudança das marés. Naquele 2 de Fevereiro, deixei minhas entregas principais para depois. Nosso carro havia sido deixado na garagem de uma amiga do Templo Telucama, cuja belíssima casa ficava lá no alto de um morro do Rio Vermelho, ao lado da do Carlinhos Brown. De lá de cima da rua do mirante havia como descer até as pedras da praia, com mais privacidade, já longe da confusão que havia no santuário central. Por sincronicidade ou sequência de atos falhos, para minha "entrega" sobraram apenas duas rosas vermelhas e uma branca. A Nina, bruxa sacerdotisa da Casa Telucama, deu gargalhadas, fazendo a sua "leitura" simbólica antes de mim: eu (o branco) estava em um processo de definição de afetividade, entre duas figuras femininas (as vermelhas). De fato, era a primeira vez na vida em que me vi com motivos suficientes (ou "falta" deles) para *terminar* um relacionamento amoroso. Mas havia outras pessoas e compromissos envolvidos, e o começo de meu relacionamento atual. Aquela viagem de Salvador era, na verdade, "um tempo" para mim, após um dificílimo limite e "basta" que tive que aprender a impor. Fui para conversar comigo mesmo, me "recolher", ficar uns dias no templo, sem estar no meio de processo (algum) emocional. E foi neste momento que Yemanjá me encontrou. E lá fui eu, descendo sozinho o morro do Rio Vermelho, em direção a mais famosa praia de Iemanjá do país, no dia dela. Com meio milhão de pessoas nas ruas do bairro reforçando a egrégora, para, sem eu perceber direito, oferecer as duas rosas (e o "roso" branco, eu), para Iemanjá. Na "casa" dela. Pensei em como minha vida de encontrava naquele momento. Um "psicanalista de sistemas", trabalhando de 8 as 23 todos os dias, em duas áreas (informática e clínica), sem definição completa em nenhuma delas. Entre um relacionamento no qual investi muito (não só financeiramente), e após uma gravidez mal sucedida e uma série de problemas (que só diz respeito aos envolvidos), vi desmoronar. Até que, perdido de loja em loja, fui resgatado entre sincronicidades inacreditáveis por alguém que tinha tudo a ver comigo, com meu momento, com meu lugar, com meu trabalho, com minha origem, com meu destino, etc. Hoje em dia, a adequação da companheira Camilla à minha vida pode ser óbvia aos amigos, mas na época era preciso muita percepção e atitude. E estava também dividido com relação a moradia, uma vez que meu "casamento" havia fracassado antes do começo, e com isso eu CONTINUAVA morando numa simbólica casa muito antiga, com outras associações que eu não precisava mais manter. Os detalhes - e há muitos - seriam pessoais demais para este relato, e prefiro deixá-los para uma conversa amiga em algum "encontro" voador. Pensando nesta "indefinições" - de carreira, de relacionamento, de moradia - e em tudo o que significavam simbolicamente em minha vida (todos tinham a ver com situações de 12 anos atrás, nas quais me prendi e repetia padrões), e profundamente tomado por toda aquela egrégora de Yemanjá (cuja existência eu podia perceber "na pele", ali naquela data e local), fiz meus pedidos nessa intenção - a de definição - com uma força mental daquelas que fazem sair "energias" visíveis nos filmes do tipo The Secret. Neste momento, aconteceu algo impresionante. Eu estava, como disse, em uma plataforma alta e segura. Já havia observado o local há tempos, enquanto eu descia o morro do mirante, e enquanto eu olhava do alto das pedras amadurecendo o que eu iria realmente pedir. Desci para fazer a entrega até um lugar seco, e no momento EXATO em que eu formulei e emanei o pedido e IA jogar as três rosas ao mar, NA MESMA HORA uma onda enorme veio do nada (repito: do nada!), subiu as pedras secas e - literalmente - me lavou inteiro, levando minhas rosas sei lá para onde. Eu JURO que onde eu estava era seco, longe das águas. E o fato é que "passei um aperto", pois fui molhado até o peito (inclusive estragando o celular e a câmera fotográfica digital), e temi ser levado pelas águas, em um lugar distante onde sequer a Nina (lá em cima, no mirante) poderia ver. Em um segundo, estava encharcado, procurando me segurar nas pedras, com um arrepio enorme de ponta a ponta do corpo (se eu já estava semi-incorporado antes, o que senti após o banho foi indescritível), não sabia onde estavam as minhas rosas. E, ato contínuo, senti uma grande EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA. Chorei, e vi em flashes, naquele "mini-samadhi", "espirro kundalinico", "satori" ou o nome que queiram dar, MUITAS possibilidades e resolução. Lá no mar verde profundo, um redemoinho levava DUAS rosas, uma vermelha e uma branca, lado a lado por longos minutos, longe ou perto das pedras. A outra "rosa vermelha" simplesmente desapareceu, não vi sequer seus vestígios, na meia hora em que passei ali. Vi, em detalhes, a solução do que me preocupava em relação a outra pessoa, com quem eu me preocupava material e estruturalmente. Quando cheguei em SP, não precisou de uma semana para as coisas dela se configurarem, com detalhes, como eu havia visto. No começo, parecia uma grande destruição, uma mentira, um engano, mas foi exatamente como vi, como de certo modo pedi, e do único modo onde tudo poderia ficar bem para todos. Pedi fortemente que minha carreira se definisse, para um lado ou para o outro. E presenti que a questão da casa ainda não seria DO MODO que eu havia pensado, mas que entraria em processo de resolução. Pois bem, na meia hora em que passei ali, em quase transe, a água nunca mais voltou a me molhar. Só naquele exato SEGUNDO da minha entrega é que a enorme onda veio (do nada) me lavar. Impressionante! Fiquei por ali, primeiro refletindo, depois meditando, aproveitando o "estado" em que ficamos após uma expansão da consciência. As duas rosas, lado a lado, ficaram o tempo todo girando ali perto de mim, às vezes um pouco mais longe, sem afundar. Da terceira, nem as pétalas. Foi levada para o fundo do mar. Era hora de voltar. Agradeci, fiz um gesto de saudação, e comecei a cantar um canto de Iemanjá, em gratidão, em profunda paz de espírito. Mas então IMEDIATAMENTE, após meia hora seco naquele local ali, veio novamente do nada um VERDADEIRO TSUNAMI, subindo pelas pedras, me encobriu até além da cabeça, fez eu engolir meu canto junto com muita água salgada - e, aí sim, tive "quase certeza" de que não teria como escapar. Me agarrei às pedras mais acima, enquanto meus pés deslizavam ao pouco. Fui sendo puxado, tragado pelo oceano, mas por "sorte", o refluxo / retorno na onda terminou pouco antes do que a minha ÚLTIMA resistência. Com alguns instantes mais de duração, CERTAMENTE a onda teria me levado para o fundo onde aquelas ondas quebravam nas pedras, e não sei qual seria a facilidade de sair a nado de lá. Nessa altura, meu celular (no bolso da bermuda) e minha câmera digital (em um saquinho de couro pendurado em meu braço) já haviam sofrido "Perda Total". Refleti imediatamente que eu havia dado um celular de última geração para outra pessoa, mas o meu ainda era um antigo, doado pela empresa. Ídem para a câmera, a minha era pior do que a usada no relacionamento anterior. Sempre dei o melhor para quem não me dava em troca, e eu mesmo ficava sem. Como me lembrava a Nina, logo mais ali em cima, eu deveria aprender a "dar 50%, e trocar os outros 50%", atitude bem mais inteligente do que dar 100% a quem não retribui nem conserva, e a seguir ficarmos todos sem. Quando subi o morro e, assustado, contei tudo para a Nina - que me esperava há um tempão - ela deu risadas sérias, especialmente do casal de rosas, e me disse que Iemanjá "queria" meu celular. Como se fosse a coisa mais natural e cotidiana do mundo. Mas havia no meu celular uma agenda importantíssima, que eu precisava recuperar. Falei mentalmente que eu até poderia oferecer ele para Iemanjá (que os ecologistas não me ouçam), mas precisava dos dados. Mas nem a assistência técnica de sampa deu jeito. Até que um dia, já na empresa em São Paulo, resolvi ligá-lo por teimosia (mesmo sem funcionar) ao cabo USB, e ele resolveu sei lá como me dar acesso à agenda, e depois até mesmo deixar eu copiar (via software) os dados da memória para o cartão S.I.M. !!! Vai entender? E o mais impressionante é que o tal celular parou de funcionar depois disso. Ou seja, novamente ela havia ouvido meu pedido, o que me deixava com outro compromisso junto ao mar. Não teve jeito, tive que prometer "entregar" o celular para Iemanjá. Desci para Santos, e num fim de semana na casa do moderador Emílio Cid, de São Vicente, fiz aquele ato poluente que me expulsaria do GreenPeace. Mandei o velho motorola pra quem o queria. O curioso e shivasita da história foi que quando eu cheguei de Salvador aqui em Sampa, muitos aspectos da minha vida, inclusive alguns dos pedidos, pareceram virar de cabeça para baixo. Problemas no instituto de psicanálise, mudanças de regras no sindicato, pressão na empresa, dificuldades nos acertos com o relacionamento anterior, inviabilidade da mudança que eu queria fazer para um flat... NADA dava certo, mas ao mesmo tempo, como vi depois, TUDO se formou de uma maneira em que eu TIVE que me empenhar como não fazia antes, para resolver. Tive que acelerar minha formação psicanalítica, por ex, para atender à "virada de mesa" e "puxada de tapete", mas só depois vi que isso fez com que ela viabilizasse o que não seria feito no tempo necessário. E eu não tinha como prever o futuro. O que parecia dificuldade extra nos acertos do relacionamento anterior me ajudou de vez a solidificar e oficializar o que (e quem) era o melhor para mim (e até pra vcs da voadores também, rs). E por aí vai. Foi aí que me contaram que Iemanjá tinha mais a ver com as marés, com o alto e baixo das ondas, e que ela não era as aguinhas tranquilas onde morava a mãe Oxum. E eis que alguns dias depois eu e Camilla vamos ao Grazie a Dio, já ali no começo de namoro, e encontrarmos o Grazie completamente modificado por uma exposição de... Iemanjá! É verdade que lá há UMA imagem, mas no dia, TODAS as paredes e temas estavam repletos da senhora do mar. E textos como o que a Cammy solicitou ao site do bar, e enviou hoje aqui: > Foi uma sincronicidade daquelas encontrar uma exposição de Impressionante! Senti na pele este corte, e as coisas nunca mais foram como antes. Começou todo um processo que me fez perder o emprego, perder a moradia, e logo depois - na virada deste ano - perder também TUDO o que antes me identificava com a persona: eu não era mais o Lázaro da Naviterra, não era mais o da Merchant, não era mais o da Transpsicanálise (tive alta de minha análise didática, deram minha formação por concluida), a Maniji onde atendia fechou em Sampa e no processo perdi meus pacientes (todos menos um), na saída da empresa fui praticamente "expulso" da minha casa antiga, no mesmo período meu carro fundiu o motor (6.500 de prejuizo) e eu andava a pé... ... e de repente eu me vejo em outra casa, em outra relação, atendendo em outro local, buscando novos pacientes, estudando filosofia em outra escola, tocando sozinho com outros teclados mais apropriados para isso, repensando meus cursos, meus escritos, sem morar na casa do relacionamento de 12 anos atrás, sem trabalhar no emprego onde trabalhava meu relacionamento de 12 anos atrás, sem dividir casa com o (querido) filho de meu relacionamento de 12 anos atrás, e sem me prender em uma sequência de situações que repetiam o padrão de um casamento que durou 12 anos, e que terminou há outros 12 anos atrás, mas do qual só saí de vez após ter minha vida e "identidade" literalmente "DESTRUIDA" após cantar um bocado de Om Namah Shivaia no ano passado, logo após fazer umas entreguinhas para Iemanjá. Claro que tenho receios e expectativas, e algumas demolições à minha volta deixaram cicatrizes. Mas tenho o que pedi, mudança e transformação, numa intenção clara de DEFINIÇÂO do que será, ou pelo menos afastamento do que "não é" (pedi exatamente assim naquele 2 de Fev para Iemanjá). E Iemanjá ocupa agora, ao lado de Xangô, Jesus, Buda e Krishna, um lugar de destaque em minha vida e altar (agora montado em outro lugar). Não sei o futuro, mas hoje sigo o Amor, o Sorriso e a Música - minhas setas no caminho de volta, lanternas do Self nos meus passos em Gaia, oriente nas noites em que me perdi, que me alinham à realização do que realmente vim fazer aqui. Independente do que for o amanhã, há definição, há conexão a algo maior... e garanto que, no aqui-agora que importa, nunca me senti tão LIVRE, AMADO e FELIZ. Om namah shivaia! Láz
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