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>> Colunistas > EQM - Coma, Experiência de Quase Morte e Viagem Astral (RELATO) Publicado em: 07 de julho de 2009, 10:00:45 - Lido 7805 vez(es) --- Em voadores, tomas sardinha escreveu Fui criado em um subúrbio de Belo Horizonte, região pobre e simples. Na casa defronte a dos meus pais, vivia um família protestante, mais simples ainda que a média do Alto dos Pinheiros / Califórnia, mas que ainda se mantinha com o que alguns filhos enviavam dos Estados Unidos, onde tentavam a vida entre trabalhadores temporários e/ou jogadores de futebol. O pai, Zezé, era um zagueiro sênior nos campinhos de terra em que comecei a fazer minhas primeiras defesas. Seu irmão Dida - mais novo que ele, mais velho que eu - era também o melhor goleiro dali, e me ensinava bastante. E o filho emigrante, o Giovanni, da minha idade, jogava como ninguém, e acabou dando certo no futebol dos EUA. Eramos próximos, desde criança. Numa dessas vezes em que estive em rádio e TV, meu pai - orgulhoso do filho estar na mídia em rede nacional - avisou aos vizinhos. O senhor protestante da casa em frente, o Zezé, que sempre me chamava de "professor" (por eu ser um dos poucos dali da rua a ter estudado minimamente) e tinha por nós um carinho ímpar, também assistiu. Sem saber que o tema seria saídas do corpo e fenômenos espirituais. Acontece que o Zezé, pouco tempo antes, havia quase morrido. Teve um problema de coração e outras complicações, e passou um mês entre a vida e a morte, em um hospital de BH. Boa parte do tema em coma. A família preparou-se para o pior. O que, em se tratando de protestantes desenganados, inclui muita, muita, muita oração. Seja por crença, Deus, The Secret ou competência médica, o fato é que meu amigo Zezé, pai de meus amigos do campinho, acabou voltando à vida, após mais de mês sob aparelhos. E voltou "da morte" igual ou melhor que era antes, inclusive se permitindo uma pelada de vez em quando, e com a fé - em Deus, na vida e na família - muito mais reforçada. E eis que, numa dessas férias, volto a Belo Horizonte, após a entrevista em rede nacional ter revelado a meus vizinhos, com a ajuda de meus pais corujas, um pouco daquilo que o ex moleque de subúrbio de BH faz em Sampa nessas coisas de espiritualidade, projeção e filosofia. Alguns mais protestantes devem ter passado a me olhar de um jeito mais estranho e se afastado... Mas não foi o caso do Zezé! Mais tímido do que já seria esperado de um mineiro humilde, o Zezé veio me procurar, muuuuuito desconfiado e sem jeito. Após meia hora de introdução, justificativas e explicações (da qual vou lhes poupar), ele me disse que havia visto minha entrevista, as cenas de Ghost e outras saídas do corpo que mostramos. E pedindo sigilo (que em parte quebro agora, anos depois) devido à sua religião, me revelou suas experiências (assustadoras, para ele) durante o período de coma e quase morte pelo qual passou. O Zezé relatou que se viu "fora do corpo", em sensação de tempo real e consciência plena do presente - mas perdendo, sucessivamente, a lembrança e vínculo com a vida e família que deixava para trás. Enquanto seu corpo oscilava entre a vida e a morte, ele foi se encaminhando pela longa estrada em direção a Itabira, cidade onde havia passado sua infância. Ele relata que se via como um mendigo andarilho, tinha sensação de fome e sede. E que foi muito penoso chegar lá, como se a vida (ou morte) tivesse se reduzido a uma longa estrada em que ele precisava caminhar, sem olhar para trás. Não me lembro se ele foi "conscientemente" até Itabira, ou se encaminhou-se de um modo irresistível ou automático. Mas o fato é que ele relata ter chegado a uma Itabira bem diferente da que ele conhecera em sua infância, e à qual jamais tinha voltado em muitos anos. Mais moderna, outras ruas. Ali, ele não se lembrava mais da vida em família em BH. Ele me contou que saiu procurando casas e locais onde havia vivido e estudado, encontrado algumas semelhanças e muitas diferenças. Ele relata que sua condição lá era a de um mendigo, parcialmente "louco", sem identificação, buscando encontrar pessoas e lugares "mortos" há muito tempo atrás, ALGUMA forma de identificação e personalização. Seus relatos parecem MUITO com o que chamariamos, no espiritismo, de um espírito errante, ainda sem consciência da morte. Zezé relata que comeu restos, orbitou em volta de bares e casas onde outros como ele se reuniam. E aos poucos, ao longo do que soube depois ser UM MÊS (para ele, talvez até mais), aprendeu a "viver" ali, se defender, caminhar... Ele relata que explorou TODA Itabira, que passou a conhecer cada rua, cada mudança. Adaptou-se, sem ter a MENOR lembrança de quem já havia sido recentemente, e sem encontrar todos os vínculos com sua antiga infância. A experiência, segundo ele, era bastante REAL, lúcida. Ele fazia questão de frizar para mim que "não era loucura", que ele achava que REALMENTE esteve em Itabira... Que VIVEU lá durante este um mês. Eu dizia que o compreendia, mas ele tinha necessidade de reafirmar a realidade da experiência. E como isso tudo foi muito assustador para ele e para suas crenças, ele me contou que ASSIM que teve alta e pôde andar livremente, sua PRIMEIRA providência foi - é claro - voltar a Itabira (agora com o corpo) tantas décadas depois. Até então, ele ainda imaginava a possibilidade de se tratar de uma Itabira onírica (ou astral, se ele conhecesse o conceito), um refúgio da infância em que ele havia tentado se encontrar enquanto debilitado. Mas ao chegar lá, ele me relatou assustadíssimo, a Itabira dos anos 2000 era EXATAMENTE a que ele havia "vivido" por um mês, e não uma derivação de suas imagens infantis. Ele se deu ao trabalho de procurar os novos bares, casas e locais que "conhecera" fora do corpo, e de fato estavam lá. Ele me relatou tudo isso com olhos vidrados, emocionados, fazendo QUESTÃO de repetir inúmeras vezes que viveu REALMENTE lá, e que CONFIRMOU tudo depois. E que, é claro, não contou para ninguém de sua família ou religião. Dei a ele os esclarecimentos apropriados sobre saídas do corpo e experièncias de quase morte, de um modo que pudesse compreender e que não ferisse demais as crenças que o ancoravam. Mas tenho cá para mim que a relação do Zezé com a vida, com a morte e com Deus nunca mais tenha sido a mesma; embora ele tenha continuado a assistir, caladinho e desconfiado como bom mineiro que é, as tais preleções e "certezas" de seu pastor. Perdi o contato com o Zezé alguns anos depois, quando ele se mudou da casa onde convivemos por cerca de 30 anos. Mas após esse relato, me lembrei que na semana que vem estarei em Belo Horizonte (para o casamento do Yubi e para a final da Libertadores), e perguntarei a meus pais em que endereço - físico ou astral - aquele nosso velho amigo agora reside. Se eu encontrá-lo, conto mais a vocês, depois. Lázaro Freire
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