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>> Colunistas > Anorexia, bulimia e transtornos alimentares - Explicação espiritual e Navalha de Ockham. Publicado em: 05 de fevereiro de 2010, 14:38:39 - Lido 4741 vez(es) > Em http://formspring.me/LazaroFreire perguntaram: > Existe uma descrição espiritual para pessoas com bulimia e
Sou um pouco avesso a isso de buscar ANTES a "causa espiritual" de coisas que já podiam ser tratadas no psíquico. Claro que as coisas se interconectam, físico, biológico, emocional, mental, espiritual; individual e coletivo; psíquico e social. Tudo é MULTI-FATORIAL. E essa é, mais do que outras, uma questão por definição ligada ao físico e aparência do paciente, e às falsas demandas da sociedade atual. A que modelo de "beleza" essas pessoas querem se comparar? Será mesmo ao de outras vidas, ou da nossa pós-Barbie, onde algumas modelos chegam a extrair a última vértebra para ficar mais longilíneas e parecidas com bonecas de plástico nem um pouco naturais? Qual a cor e forma da boneca que damos para nossas filhas NESSA vida? Qual a profissão anterior da apresentadora de TV que dizemos ser a "modelo" de princesa para elas? Que tipo de "modelo" televisivo elogiamos na frente deles? Como nós mesmos lidamos com a busca - em nós ou nos outros - de aparência e prazer a qualquer custo? Até que ponto não transformamos nossas referências estéticas em produtos de consumo? Será mesmo que passar mais de uma hora do dia de 24hs numa academia (em busca do corpo "perfeito") também não é um tipo moderno e violento de agressão ao corpo e compulsão? Será que nós, homens, não compramos prazer e modelos, no canal que assistimos, no tipo de bunda que olhamos e aprovamos, no filme pornô que muitos escondem no fundo da estante? E as mulheres, então, será que não "compram" bastante os cabelos e corpos que não tem? Não estou falando dos cuidados saudáveis com o corpo, nem do combate à obesidade (IMC's acima de 30), mas do exagero. Falamos de IMC's abaixo de 20 ou 15. Ou dos corpos "esculpidos" por horas, de modo artificial e exagerado, via aparelhos ou esteróides. Ouço muitas queixas na clínica de mulheres que se dizem "muito gordas". Antes de tudo, interrompo e calculo o IMC. Grande parte das "muito muito gordas" que se punem emocionalmente por isso estão entre 20 e 25 (normal), ou no máximo um sobrepeso pouco acima disso (25 a 30). Um IMC de 27 sugere exercícios e melhor alimentação, mas não invalidada emocionalmente ninguém para a vida ou amor. Aliás, nem a obesidade. A tristeza e a neurose, no caso, não vem diretamente do corpo, mas do princípio - equivocado - de comparação. Com essa distorção de autoavaliaçao, movida muitas vezes pela mídia, as de IMC 20-25 já são sérias candidatas a emagrecer demais. E se entrarem em um ciclo compulsivo, defensivo e/ou destrutivo no processo, por várias possibilidades (masoquismo, narcisismo, juizo emocional equivocado, perda do prazer, etc), a zona de risco pode se aproximar depressa demais. Em alguns casos, é como se dissessem: "Quem sabe se eu perder tudo alguém gosta de mim?" Primas próximas das que pensam que se derem tudo, encontrarão alguém. Mulheres que se amam de menos são a outra face da mesma medalha das "mulheres que amam demais". Mas é claro que, ao não perceberem sua própria saúde, eram elas mesmas as primeiras que não gostavam se si. Assim como aquelas que acreditam que apenas se desdobrando demais poderão ser amadas. Como se fossem inválidas emocionalmente. Ambas precisam "perder", "doar", retirar de si. E ninguém ama quem não se ama, e quem a cada dia fica - literal e simbolicamente - menor. O resto é consequência, e ficando esqueléticas, certamente fica pior. Voltando á questão "espiritual" da anorexia e bulimia, precisamos ter cuidado para não rotularmos ("esses doentes espirituais"). Isso foi uma pergunta ou uma sentença? Preconceito não é espiritualidade, e simplismo menos ainda. Também temos que ter cuidado para não sairmos procurando explicações do lado de lá para coisas já bem explicadas - e às vezes não tratadas - do lado de cá. Isso pode ser uma fuga, ainda que inconsciente.
Nesse tipo de questão, vale sempre o princípio da Navalha de Ockham, princípio que transportou a filosofia da época medieval para o pensamento moderno. Não devemos acumular pluralidades de explicações sem necessidade. Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a melhor. Descartadas as explicações mirabolantes, impossíveis e invisíveis, aquilo que sobra, por mais estranho que pareça, costuma ser a verdade. Havendo múltiplas explicações válidas possíveis para uma hípótese, o natural encontra-se sempre na explicação mais verossimil. O certo é simples e o simples é certo. Vide:
Lázaro Freire -- |
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