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>> Colunistas > Lázaro Freire Desconstrução 2/3 - O que importa é... Publicado em: 12 de setembro de 2007, 13:45:36 - Lido 3056 vez(es) <<< Continuação da mensagem "Tudo é mito, mas...", em http://lista.voadores.com.br/message/76900 >>> > Lázaro disse: > A questão é: quem se sustenta por si, sem seu mito? Há quem se confunda com a máscara que precisou usar. Tudo é muleta, e é lícito que usemos uma. Ser usado por ela é que é outra coisa. > Então, onde você estiver, sei que há três ilusões - a atual, a transcendida e o novo paradigma - e todas elas são pisos falsos: você terá que viver bem com isso, enquanto isso. Sem parar de evoluir. Vamos às três, para extrair o que importa: 1. O mito de antes. No exemplo da maioria dos voadores, essa função é ocupada por algumas religiões cristãs. É real para quem está nele, mas em geral tem seus próprios mantenedores. Para esses, podemos ter duas posturas: sermos ausentes; ou termos a responsabilidade de lembrar-lhes que provavelmente "somos eles mesmos, amanhã". Quem saiu na frente deve dar a mão para quem vem atrás, mesmo que estes tenham medo do desconhecido. No caso da voadores, são eles que nos procuram: não defendo pregarmos conversão universalista ou desconstruções piores ainda nas listas de espíritas ortodoxos ou tarefeiros da universal. Desconstruimos os mitos antigos aqui, a VOADORES foi criada nessa função - e é claro que nem todo religioso nos manda flores por isso, nem homenageia a quebra de seus pilares batizando seus filhos de "Lázaro", "Acid" ou "Yubertson" (no que ele faz muito bem). Entretanto, o questionamento é útil, alguém tem que fazer, é nosso dharma. E só fazemos para quem vem até nós AQUI. 2. O mito atual. Este, precisa ser bem vivido, pois é nosso chão. Mas, ao mesmo tempo, precisa ser transcendido. Esse é onde ocorre a resistência, pois é a aceitação dele que nos fez amigos de nossos amigos, o que não significa que queiramos morar debaixo de cada ponte que precisarmos atravessar. Por mais caras que nos sejam nossas visões atuais do mundo, de Deus e da espiritualidade, na maioria dos daqui são hoje diferentes das "certezas" que tinham há 10 anos atrás; e, espera-se, serão também mudadas amanhã. Toda a nossa teoria espiritual, ainda assim, é mito, no melhor dos sentidos do termo: Conjuntos de credos aceitos por terem feito algum sentido em um nível anterior nosso de percepção, e que por isso aceitamos por inteiro o que ainda iriamos conhecer. Questionar deveria ser inerente, nessa condição. Sâo também explicações humanas, em geral de outra autoria, para algo bem maior do que a nossa compreensão. O melhor palpite que pudemos aceitar, a melhor projeção que pudemos elaborar. Mas que nunca, por definição, é "a" experiência do Todo, em Si. Há vários destes mitos atuais aqui, inclusive o mito espírita, o mito espiritualista, o mito de um inconsciente (quer abstração maior?), o mito transpessoal (esta aí uma maior), o mito da bruxaria, o mito junguiano, o mito projetivo (nossa melhor explicação para fenômenos pelos quais passamos), o mito yogue... E até o mito neo-narcisista "boomerite" (Termo de wilber para a geração com estranha combinação de criatividade e egoismo, racionalidade e narcisismo criada a partir do pós guerra), o de estarmos construindo "o" paradigma final, o nosso, "o" voador, "o" que vai mudar o mundo (rs), obviamente "muito além" dos "ultrapassados" mitos dos demais. Para a maioria daqui, são as bases espiritualistas universalistas, a projeção astral ou a visão espírita da reencarnação, dentre outros. Para outros, ainda é o próprio espiritismo. Tanto faz. Precisamos ter a dura humildade de aceitarmos talvez não termos ainda em mãos a verdade final, mas a explicação dela que melhor nos satisfez... até aqui. Ora, tudo isso - que encontramos aqui como diferentes paradigmas atuais de assinantes com visões de mundo e credos difrentes - é, no bom sentido, "Mito". Citando a crítica de Jerônimo (o "santo" que fez a Bíblia), "a verdade única não pode estar simultaneamente em duas fontes que se contradizem". 3. O mito da desconstrução, o passo seguinte. Em boa parte, é do que tratamos na Voadores, e em maior ou menor grau, em espaços co-irmãos como o Saindo Da Matrix ou IPPB. São discernimentos indigestos e excitantes, provocadores de extremos emocionais, que muitas vezes se voltam contra nossos próprios dogmas. Penso que a forma de lidar com questionamentos diferenciados mostra muito da forma com que cada um lida também, internamente, com seu "Deus". Na condição de dúvidas construtivas, e não certezas estagnantes, não podem mesmo substituir definitivamente nada, nem serem sempre delicadas. Ao contrário, sua única promessa é de deixar rachaduras nos nossos alicerces... que já se mostravam frágeis. Não havia nada de errado em construir nosso sobrado anterior ali, e até fazer um puxadinho aqui; mas seria impossível usar o mesmo alicerce doutrinário que já nos foi caro para sustentar arranha-céus. Estas novas visões primeiramente parecem sem sentido, depois hereges, talvez ofensivas. Depois podem ser vistas como "dissidências", questionamentos, novos paradigmas, a verdade de alguém, para enfim ser visto como um terreno ao mesmo tempo admirável e temível onde não há a certeza de antes - ainda bem. O novo é incômodo, mas é o que tira o pé do chão - ou traz o deus anterior ao solo. Aquilo que "deve estar errado, só não sei porquê". E, em não sabendo, muitos atacam os laboratórios de questionamento, se dizendo "desrespeitados". Até isso não colar mais, e, enfim, reclamarem de terem sido "desconstruidos", e exigerem (?) a apresentação de algo "igual e melhor" no lugar, para se apoiarem. Mostramos a eles porque não chamar ninguém de mestre, e eles entendem que isso são palavras de um grande mestre. Como aqueles escravos que, uma vez libertos de um senhor, usam a liberdade para fazer a mesma coisa, na mesma condição, para outro que lhes parece - no primeiro momento - diferente e melhor. E isso pode continar ao infinito. O que não é nada mal. Logo, o importante não é a construção, nem a desconstrução, nem saber se tal conceito é mito ou a minha "suprema verdade espiritual". Mas sim saber se você está vivendo bem o mito que escolheu. Se ele lhe faz melhor no aqui-agora, e ao mesmo tempo não limita seu crescimento. Se ele lhe prende, ou lhe lhe liberta. E se ao mesmo tempo ele não lhe cobra o maior pedágio do todos, o da estagnação, o que lhe impede de transcendê-lo. Para mim importa mais se você, DENTRO de seu mito, realiza "Deus" - uma experiência direta, não um ícone distante ou a imagem que uma religião crie como auxiliar dessa experiência. E se consegue continuar realizando a Ele e sendo feliz sem o mito. Se sua "fé" é o mito, o que é fácil de ver nos que se "ofendem" e exigem "respeito"; ou se a experiência interna é inabalável e independe da forma que sua teoria ou doutrina preferida tentem a explicar. Caso contrário, se seu alicerce se balança com a desconstrução, não foi a Deus que você realizou. Reconheço que possa ter sido um passo nessa direção, mas nesse caso, a VOADORES também tem sua função de ser outro desses passos. Nesse sentido e objetivo, notem que a frase que começou essa discussão (ter que dar outro mito ao desconstruir um) pode ser até memso um equívoco: deveriamos optar por remédios que não causam dependência, que não sejam em si um mal maior do que o que combateu. Por isso, o que mais importa numa desconstrução evolutiva é expor quem e o que realiza a Deus com ou sem seu mito, seja ele qual for. Sem confundir Deus com o próprio mito, já que escada não é teto, e religiosidade não é religião. Nesse sentido, de levar ao Self, de permitir visão e intuição, promover insights e levar à transcendência como consequência prática e não credo teórico, costumo dizer: há textos psicanalíticos que são mais "espiritualistas" do que muitos dogmas, doutrinas e religiões. Na espiritualidade que importa, a que é indestrutível: a realizada internamente, e aplicada no cotidiano. -- Lázaro Freire lazarofreire@voadores.com.br
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