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Racismo espiritual e preconceito - Discernindo a 'aumbhanda sânscrita' (sic)
Publicado em: 05 de março de 2008, 11:42:35  -  Lido 3912 vez(es)



> A umbanda "podendo" ter ligações com o sânscrito me foi muito útil
> para começar a estudar e não ter nenhum PRECONCEITO contra tal
> religião,


> Maisa:
> Essa sua fala, Sepher, resume muito de toda essa conversa, na
> minha opinião.... Ou seja, se vc não pensasse que a Umbanda tem
> raízes na Índia, ou ligações com o sânscrito, vc não a teria
> estudado sem PRECONCEITO...
> Interessante...

> Láz
> Também concordo com a Maisa quanto ao PRECONCEITO. Se uma pessoa
> tinha preconceitos com a umbanda, e só os venceu a partir de gostar
> mais de sânscrito, que ótimo para a pessoa e para o grupo!
> Mas note a idéia por trás: Hindus são pop, negros africanos merecem
> preconceito mesmo, é bem mais chic vir do sânscrito atlante
> do que do idioma das tribos africanas de negões!!! (rs) Se a gente
> trocar o atabaque por psy-trance, trocarmos as pombas-giras pela
> linha das patricinhas e ex-ripongas desencarnadas, corrigirmos o
> português do preto-velho e pintá-los de branco, talvez a gente
> consiga maior adesão ainda de quem compreensivelmente precise de
> ajuda para enfrentar seus preconceitos contra uma religião que
> acham tão boa, "apesar" de ter origens na áfrica e nos mais simples
> dos (argh) espíritos de índios, caboclos e escravos do Brasil. :-D

> Nessa:
> olá pessoas! também estou aprendendo muito com as discussões...
> bom... confesso que me surpreendi, e em um sentido não muito legal,
> não: quer dizer, então, que seria aceitável/normal ter mais
> preconceito contra os africanos, os preto velhos da umbanda, do que
> contra os "atlantes"/"lemurianos"/sei lá o quê que supostamente
> seriam os verdadeiros pais da umbanda ???
> ou então eu entendi errado. :)

 

Em minha opinião, você entendeu corretamente, e resumiu bem a "essência" do debate atlante-sânscrito-macumbal que tivemos na Voadores, onde defendiam que, face ao preconceito que as origens da umbanda "merecem", seria melhor dizer que vem de AUM (om) + BHANDA (contrações) do sânscrito (!) falado em Atlântida (!!) por Ramatis (!!!); descartando a óbvia origem do termo africano "mbanda" (magia).

 

No fundo:

Se for em sânscrito é chique, pop e cult.
Se for de atlante, é ótimo, porque ajuda a "vencer o preconceito".
Mas se for de preto, africano, pobre, caboclo ou de Niterói, aí não dá.

 

Está nas entrelinhas do debate, tornando-se explícito ao final: havia um certo enamorar pela umbanda e seus ritos, mas não se gostava das origens e filiações originais, devido a um assumido PRÉ-CONCEITO, que eu e Maisa comentamos: http://groups.yahoo.com/group/voadores/message/80156

Provavelmente essa aumbanda vá para frente, há precedentes: foi JUSTAMENTE através de mecanismo similar que o "espiritochiquismo" brasileiro cresceu, se tornando um neo-catolicismo-reencarnacionista que pouco ou nada tem a ver com o Kardec original. Os "católicos" de décadas atrás também adoravam um terreiro, uma incorporação, mas achavam que isso não era lá coisa de gente branca, rica e do bem. Então, importaram da França algo do meio culto da metrópole cultural da virada do século, misturaram com preces e conceitos do catolicismo, trocando o terreiro escuro por uma mesa beeeeeeeeeeeeeem branquinha, assim como a pele de seus frequentadores descendentes de europeus.

Hoje em dia, o catolicismo e a língua francesa não tem o mesmo IBOPE do século passado entre pessoas cultas que tenham um pé no misticismo, e outro nas aparências sociais. Mas se for em sânscrito com fundo esotérico e explicação atlante, ah, bom.

Vi isso também em algumas fundações ocultistas "universalistas", que sabiam o nome de deuses de cada coisa usados por quinhentos povos - exceto os locais. Faziam belos ritos gardnerianos para a deusa greco-romana do sei lá o quê. Pediam para cada visitante cantarem seus mantras... Mas olhavam com desprezo quando alguém brasileiro, estando no meio de matas e cachoeiras de Minas Gerais, Brasil, puxava um ponto para Oxóssi ou Xangô. Juro que vi.

Tenho amigas bruxas na Bahia, descendentes de celtas oriundas de portugal, que embora cultuem o seu panteão original e o greco-romano, saudam e respeitam sempre os deuses da egrégora local, cultuada por MILHÕES ali em Salvador. São discriminadas em seu meio como wikkumbeiras. 

 

Certas estão elas: Como vou evocar e ensinar o nome da deusa da lagoa celta não sei qual, desprezando que "toda a cidade é de Oxum"? Curioso que a mesma "bruxaria nacional" aceita reconhecer deusas incas, xamãs e hindus como aspecto da mesma deusa, mas é mais fácil falarem cultuarem Pocahontas do que uma Cabocla Jurema tupiniquim.

Conheço ufólogos do sudeste do país que juram que os ET´s de cabeça chata, pele parda e baixinhos são do mal... e falam oxente. Já os "do bem" são sempre altos, loiros, nórdicos e de olhos azuis. Afinal, todos anjos cristãos são assim. Tendo nascido no Oriente Médio, provavelmente o judeu Jesus usasse protetor solar 150, lentes de contatos azuis e escova progressiva em pleno deserto da Palestina. Que bom. Quem aceitaria um Messias com aparência daqueles terroristas árabes filhos da mãe?

Pra quê Xangô e sua machadinha, se posso ter Thor e seu martelo como deus do trovão? Pra quê ouvir escravos negros vindos de Angola, se posso ter exilados brancos de Capela morando em Atlântida? Pra quê "mbanda" africana, se tem palavra em sânscrito (aum bandha) que também parece, sem dar esse ar tão pobre? No shopping não vende búzios, mas pedras de runas, aposto que tem. É tudo a mesma coisa, mas, convenhamos, entre uma loiraça finlandesa e uma boa mbanda carnuda de negona africana, preferem a primeira, embora "pratiquem" a segunda no carnaval de Salvador.

Afinal, como sabemos, elementais são gnomos de casaquinho medieval europeu em plena mata atlântica, selva amazônica ou caatinga, e nunca o curupira; os do fogo são as salamandras, e nunca os fogo-fátuo; e os do ar são os silfos, e nunca o saci-pererê.

Mas "não é hipocrisia nem racismo espiritual, não", vão dizer: "É só uma ajuda pra vencer meu preconceito", vocês hão de entender.



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Lázaro Freire
lazarofreire@voadores.com.br


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