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>> Colunistas > Benedicto Cohen (Bene) Historinha - Uma obra de grande porte Publicado em: 14 de novembro de 2008, 10:16:10 - Lido 2522 vez(es) Om Namaskar, doces irmãos... Pois é aqui, entre doutos tratados e outros escritos mais despreocupados, que nos lembramos de recontar uma antiga fábula hindu - para vosso mero entretenimento, apenas - sobre um velho brâmane que após haver investido tempo, recursos e influências para dar educação e lustro a seus quatro filhos - afamados vagabundos que eram - acaba perdendo a paciência e expulsa-os de casa, para que partam em busca da própria subsistência e cultura. Os nobres rapazes, ao se verem assim privados da boa vida que levavam, tentam primeiro sobreviver através de meios mais fáceis - roubo, prostituição, jogo - mas logo de início acabam dando-se muito mal, pois até mesmo estas artes escusas requerem um certo aprendizado e prática. Percebendo com isto que sem esforços e dedicação não iriam muito longe, os quatro moços decidem então investir seu tempo seriamente, na realização de algum feito que lhes pudesse angariar o respeito do pai, além de trazer-lhes fama e fortuna. E com isto passam a estudar arduamente as ciências da época, até que finalmente acabam desvendando o maior de todos os segredos: o segredo de criar a vida, privilégio apenas dos deuses, até então. Voltam assim ao pai, falam-lhe da importância da descoberta e do renome que isto trará à família, e acabam convencendo-o a reunir todos os gurus, sábios e religiosos da região para assistirem ao milagre da criação da vida. O velho pai, ansioso por recuperar o prestígio da família junto aos demais pânditas e mestres, encarrega-se pessoalmente de convidar a todos. No dia marcado a ilustre corte se reúne em um grande auditório, onde os quatro jovens brâmanes, depois de fazer uma meticulosa vistoria final nos misteriosos aparatos ali dispostos, logo dão início à demonstração: Primeiro, estendem a pele de um tigre morto, e em seguida começam a executar uma série de procedimentos, muito bem estudados e precisos: montam o esqueleto sobre a pele, encaixando os ossos nas respectivas articulações, recheiam aquilo de carne, instalam um cérebro e demais órgãos, e por fim partem para as etapas mais secretas, misturando estranhos líquidos e poções ao conjunto, de mistura com evocações e fórmulas mágicas. Depois de fechar e costurar tudo aquilo como um pacote, um deles, numa apoteose final, aproxima-se da cabeça do animal assim recomposto e aplica-lhe na testa o selo místico que lhe devolverá a vida. E eis que o prodígio anunciado realmente acontece - o animal subitamente pisca os olhos, e ergue-se nas quatro patas, para assombro de todos os sábios ali reunidos. O mais erudito dos mestres presentes levanta-se para aplaudir... Os demais começam a imitar-lhe o gesto... Mas ocorre, porém, que o animal ali à frente, como dito, era um tigre - que por sinal havia ressuscitado com imensa fome após o prolongado jejum... E ato contínuo, sem hesitar nem um segundo, o portentoso animal - valendo-se das poderosas patas, garras e presas - põe-se a trucidar todos os presentes - incluindo os quatro jovens que ironicamente o haviam feito reviver - só deixando com vida um triste pária, aliás mais morto do que vivo. Providencial esquecimento do felino, aliás - ou quem sabe desejo de deixar um biógrafo que lhe contasse os feitos - visto ser graças a este pobre homem que hoje podemos contar nossa humilde historinha a todos vós, gentis sahibs e graciosas memsahibs - inclusive apondo-lhe esta singela recomendação final: Muito frágeis e vulneráveis demais nos fizeram os deuses, e assim somos nós. Por isso, meus amados, lembrem-se sempre de que todo o cuidado do mundo ainda é pouco, quando se trata de dar vida e controlar coisas maiores do que nós mesmos. Bene Cohen Escrito em Agosto de 2008 - Lista Voadores -- Benedicto Cohen (Bene) beneluxbr@yahoo.com.br
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