29 de março de 2024
                 
     
                         
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A Arte de Desdobrar-se
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A cultura de muitos povos antigos fala da existência de um segundo corpo do homem, capaz de desprender-se do físico e viajar para lugares distantes ou outros planos de vida.

O desdobramento ou, segundo Waldo Vieira - autor do livro Projeciologia -, a projeção da consciência fora do corpo humano é um "fenômeno antigo e universal, de todas as épocas, raças e povos, mesmo daqueles considerados não-intelectualizados, atrasados ou selvagens. Ele é encontrado nas primeiras narrativas da Antigüidade Clássica (...), bíblica, egípcia e babilônica, nas crônicas sacras do Oriente, aparecendo tanto no homem ignorante como nos sábios e intelectuais, na qualidade de faculdade natural, biológica, ou seja, de origem fisiológica". Enfim, a projeção consciente é semelhante, em muitos aspectos, a diversos outros estados alterados de consciência, tais como o devaneio, o pesadelo, o sonambulismo, o sonho, o sono, etc."

Esse segundo corpo que se projeta recebe um nome distinto em cada uma das culturas antigas. Os hebreus o chamavam ruach; os egípcios, o ka, replica exata do corpo físico, mas menos densa; os gregos o denominavam ameidolon; os romanos, larva; no Tibete, bardo; na Noruega, fylgja, enquanto os antigos bretões lhe davam vários nomes - fetch, waft, task, fye.

Na China, o thankhi abandonava o corpo durante o sonho e podia ser visto por outras pessoas. Os antigos chineses praticavam a meditação para liberar o segundo corpo, que se formava no plexo solar, pela ação do espírito. A sua saída pela cabeça aparece representada em desenhos antigos. Os antigos hindus falam do segundo como pranamayakosha. Os budistas lhe chamam rupa.

Waldo Vieira diz que nos tempos antigos a projeção só era revelada aos iniciados e conseguida através da prática de certos rituais secretos, cujas técnicas se perderam ao longo dos séculos. Hoje restam apenas as tradições orais.

Na Bíblia também não há descrições das técnicas usadas, somente as narrativas de casos. Em Ezequiel 3.14, por exemplo, o profeta descreve assim o seu desdobramento: "Então o espírito me levantou, e me levou; e eu me fui mui triste, no ardor do meu espírito (...)," No Apocalipse 1.10. o apóstolo São João relata também a sua experiência: "Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor(...)." São Paulo na Segunda Epístola aos Coríntios 12.2, escreveu: "Conheço um homem em Cristo que há 14 anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei: Deus sabe) foi arrebatado até o terceiro céu."

Existem alguns relatos de desdobramentos ocorridos no início da era cristã, como o de Arisdeu de Soles, da Silícia, Ásia Menor. No ano de 79, ele sofreu uma queda violenta e foi dado por morto. Todavia, três dias depois do acidente, quando estava para ser enterrado, Arisdeu recobrou os sentidos e contou aos amigos as experiências pelas quais havia passado naquele período. A história foi registrada por Plutarco de Queronéia (50-120). Essa narrativa mostra que a experiência de sair do corpo pode modificar o caráter das pessoas. Arisdeu era um homem de maus costumes, mas, depois de seu desdobramento, transformou- se numa pessoa virtuosa.

A própria aventura é interessante. Diz Arisdeu que após a queda sua alma pensante saiu de seu corpo e a sensação nesse instante foi semelhante a de um mergulhador projetado para fora de seu barco. Contudo, ao emergir, ele conseguiu respirar livremente e enxergar em todas as direções de uma só vez. Então viu pessoas que conhecera mas que já haviam morrido. Uma delas, aproximando-se dele, explicou-lhe que ele chegara até ali com a parte pensante da sua alma, tendo deixado o restante no seu corpo, como uma âncora. Depois de outras experiências, ele foi "aspirado por um sopro violento e irresistível" e retornou ao seu corpo na hora em que ia ser enterrado.

Em tempos mais recentes, há o exemplo de Emmanuel Swedenborg (1688- 1772) - filósofo sueco que se projetava freqüentemente, segundo o registro de suas experiências nos Diarii Spiritualis - e do escritor francês Honore de Balzac (1799-1850) - que falou da projeção do espírito na sua novela autobiográfica, Louis Lambert. Ele escreveu, por exemplo: "Ora, se meu espírito e meu corpo puderam separar-se durante o sono, por que não poderei eu divorciá-los igualmente durante a vigília?"

Na época da metapsíquica, que ocupou o período do séc. 19 até meados deste, temos as experiências de dois pesquisadores franceses, Hector Durville e Charles Lancelin, mas foi só com o norte-americano Charles Theodore Tart, em 1966, que se efetuaram as primeiras experiências científicas com o desdobramento, usando aparelhagem moderna: uma jovem, cujo nome foi mantido em segredo mas que era identificada como Miss Z, teve suas ondas cerebrais, movimentos oculares, resistência galvânica, freqüência cardíaca e volume sangüíneo registrados.

Segundo o relato contido na obra já citada de Waldo Vieira, Miss Z, enquanto flutuava fora de seu corpo físico, foi capaz de informar a hora exata marcada por um relógio fora do alcance de suas vistas, além de identificar um número-alvo que o pesquisador escondera. Essas informações foram dadas nos instantes em que os registros poligráficos demonstraram padrões de ondas singulares.

O cordão de prata, que mantém o duplo etérico unido ao corpo físico, é uma parte essencial da projeção da consciência. Se for rompido, não há possibilidade de retorno ao corpo físico, sobrevindo a morte. Em algumas tribos primitivas, esse laço de conexão aparece como uma serpente; em outras, como uma árvore ou uma trepadeira, como uma cinta, um fio ou um arco-íris. Os africanos os vêem como uma corda, e os nativos de Bornéu como uma escada.

Os antigos chineses praticavam a meditação para desdobrar-se. A saída do corpo astral pela cabeça aparece representada em desenhos antigos.

Esse cordão, segundo alguns, sai do corpo através do plexo solar, ou seja, da área do centro da força umbilical, mas há também quem afirme que a conexão essencial é pelo crânio, a sede do cérebro. Waldo Vieira explica o motivo das divergências de opinião: a visão da saída do cordão de prata da área do plexo solar é facilitada pela própria anatomia. "Os olhos físicos vêem (...) o umbigo (...), o que obviamente não pode acontecer com à área do córtex cerebral."

Segundo Waldo Vieira, o cordão não se encontra em nenhum lugar específico. Cada partícula do psicossoma (ou corpo espiritual) parece estar ligada à sua análoga física. Quando o psicossoma se afasta do soma (ou corpo físico), tais ligações aproximam-se formando um cordão de prata.

Existem alguns detalhes sobre o desdobramento que só agora estão sendo entendidos: quando ocorre a projeção da consciência, o corpo extrafísico pode se apresentar com as roupas, os adornos e os artigos que costuma usar no plano físico, isto é, brincos, óculos, lentes de contato, dentaduras, etc. Isso acontece porque existe uma ligação energética entre o organismo humano e os objetos que o revestem ou entram em contato direto com ele.

O autor americano Robert A. Monroe, outro profundo conhecedor do fenômeno, escreveu um livro a respeito, intitulado Viagens Fora do Corpo, (Record, Rio de Janeiro). Segundo Monroe, ainda hoje existem obstáculos à investigação do desdobramento. O primeiro deles é o medo da morte, pois a projeção implicando a separação entre o espírito e o corpo físico, se assemelha ao desencarne. Em segundo lugar está o temor de não saber como voltar ao corpo, e os iniciantes então preferem não prosseguir na viagem, retornando rapidamente. Para vencer esses temores, a pessoa precisa repetir o processo muitas vezes. Em terceiro lugar está o medo do desconhecido, pois não se sabe quem ou o que se vai encontrar durante a experiência ou mesmo a quem apelar em caso de necessidade.

A experiência de Sylvan Muldoon - um norte-americano que viveu no começo deste século, um dos pioneiros no estudo do desdobramento e das viagens astrais e um dos primeiros a proporcionar um informe reflexivo e detalhado de suas experiências - constitui um exemplo tradicional de como os corpos se separam para dar início à viagem astral. Sylvan despertou no meio da noite com o corpo paralisado, incapaz de mover-se. De repente, teve a sensação de flutuar e todo seu corpo começou a vibrar. Sentia uma forte pressão na parte posterior da cabeça. Em seguida se encontrou flutuando horizontalmente sobre a cama, elevando-se até o teto. O corpo lhe parecia muito leve. Desde uma altura de 1,80m, girou 90°, a partir do plano horizontal, passando à posição vertical e descendo até chegar ao solo. Então, começou a relaxar, ainda com a incomoda tensão na nuca, e deu um passo à frente.

E então aconteceu o mais surpreendente. Olhou para trás na direção da cama e se viu ali, dormindo. Tinha dois corpos: um de pé no solo, consciente, e o outro deitado passivamente no leito. Dois corpos idênticos, unidos por um cabo elástico, com um dos extremos entre os olhos do corpo que ocupava a cama e o outro na parte posterior da cabeça do corpo em pé.

Muldoon pensou com tristeza que estava morto. Começou a andar, mas vacilou ao sentir um repuxo do cabo. Tratou de abrir uma porta, mas a atravessou. Tentou sacudir os que dormiam, conseguindo transpassar seus corpos com suas mãos. Confuso, ficou dando voltas sem rumo, sem saber o que fazer. Notava o repuxo na parte posterior de sua cabeça com mais intensidade. Vacilou de novo e se imobilizou. Elevou-se no ar e foi lançado acima da cama, onde ficou suspenso horizontalmente. Vibrou como no princípio de sua aventura e se incorporou ao seu corpo físico.

Ele se movia a três velocidades durante suas viagens. Adotava um passo normal pelo quarto ou casa, ou mesmo ao passear pela rua. Havia uma velocidade intermediária, mais rápida do que a normal, na qual ele não se movia, mas tudo parecia vir sobre ele. A terceira velocidade era extraordinária: permitia viagens de grande distância num tempo muito curto. Nesse tipo de viagem, ele experimentava sem dúvida períodos de inconsciência, uma vez que lhe era impossível registrar todos os detalhes vistos.

Editora Três; Editoria; O Mundo Paranormal: A Parapsicologia
Explicada; Fascículo; N.º 12; ilus.; 28 x 20 cm; São Paulo, S.P.;
1987; p. 146-149.



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